Transexual Bissexual?

Até tive que, depois de mais de ano sem postar, vir partilhar de algo especial, importante para minha vida pessoal com vocês. Aliás, agradeço aos que permanecem como leitores do diário!


Sabe quando a vida está tranquila, certa, definida? Sabe quando as perguntas, os questionamentos e inquietações cessam? Pois é, até alguns meses atrás minha vida estava nessa vibe de calmaria!
Até que decidi enfrentar (encarar) algo que não me assustava ou inquietava mais, mas que estava ainda em minha cabeça (e algumas vezes em meus sonhos), o desejo de estar com outra mulher.

Essa vontade já foi uma constante em minha vida, quase um pensamento, um desejo obsessivo. Talvez por não ter sido realizado na sua totalidade. Pois já havia tido experiência com meninas, mas sem coragem de concretizar ficamos nos beijos e caricias. Mas voltei a sentir um desejo inquietante de me relacionar, dessa vez por completo, com outra mulher, ou outras mulheres.

Demorei algum tempo, amadurecendo a idéia (que nessa fase já me incomodava), até que conversei com meu marido, que me deu total e incondicional apoio! Decidi que era o momento, que a idéia me excitava mais do que me amedrontava, que faltava essa experiência para ser pleno o conhecimento da minha sexualidade! Nunca me permiti podar minhas vontades, pois elas expressam quem e oque sou... Sempre agi de acordo com o que minha natureza e minha essência pediam.

Quando me percebi no sexo "errado",  mesmo muito criança (sete anos +ou-) não dei bola para o que os outros me diziam ser o certo, o normal, e sim seguia o que eu sentia. Me percebia como menina, e agia de modo natural (sem saber como uma menina agia) e isso foi muito importante na construção de quem sou hoje!

Mas, depois de adulta, após ter passado pela cirurgia de  redesignação sexual, descobrir sentimentos pelo sexo feminino, devo admitir que foi complicado, que não tive estrutura para trabalhar isso. Muito menos PENSAR em por em prática (risos)... E somente no meio do ano passado, após quatro anos após perceber esse desejo, tomei a coragem -sim, coragem- para refletir, encarar a realidade e realizar algo totalmente contrário a tudo o que eu tinha por concreto, lógico e "natural"!

Logo surgiu a primeira experiência, muito boa exceto por minha ansiedade, e curti, apesar de ainda permanecer na duvida: SERÁ QUE SOU BISSEXUAL? Será que gosto de meninas também? Confesso que após voltar para casa, logo após o sexo, pensei em nunca mais repetir "aquilo", que não era o que eu queria para mim, etc... Que talvez fosse apenas uma fantasia, e que portanto, ao ser realizada, perderia a graça; afinal, nem foi tão bom assim!

Mas passado algum tempo, volta o desejo... E mais uma experiência, dessa vez um pouco mais calma e decidida aproveitei mais, curti mais o momento. Mas pensei "acho que essa não é a minha praia mesmo"! E o desejo volta com tudo seis meses depois, novo encontro, PERFEITO DESSA VEZ!
A mulher perfeita, exatamente como em minhas fantasias, meus sonhos. Seu cheiro, seu toque, seu gosto, tudo exatamente como imaginava. Linda, carinhosa, delicada, cabelos lindos!

Minha cabeça ainda me inquietava, depois de quarenta anos de certezas não saber mais de nada? Pensava em como o meu marido me veria, após essa descoberta... Após saber que de fato gosto de estar também com uma mulher. Mudaria algo na nossa relação? Ele disse que não!!! Depois de 14 anos de casados, nada mais deve ficar entre nós, devemos conhecer cada vez mais um ao outro, saber e respeitar as vontades um do outro. Claro que temos nossas "regras", nossos acordos sobre a vida, e fazemos algumas concessões quando é para a felicidade do outro.


Depois de quatro anos fugindo dos meus sentimentos, fui derrubada pela verdade que um pré-conceito me limitava, me impedia de ver o quanto a LIBERDADE de, ser e sentir tudo o que a vida me traz pode ser maravilhoso!

Duvidas, medos e "vergonhas" somem... O rótulo bissexual já não me assusta mais, é só um rótulo que classifica, separa quem se permite ser separado em classes! Eu já nem me permitia a isso antes! Continuo sendo a mesma pessoa: Cristiane, Mulher transexual, esposa do Everton, dona de casa e LIVRE!!!

Um comentário:

  1. Que legal ler a sua experiência, obrigada por compartilhá-la. É realmente muito difícil viver a sua sexualidade plenamente com tantos preconceitos da sociedade.

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