Temporada em casa de Mamãe

Depois de tantos anos, reviví coisas boas de uma doce rotina familiar...a convivência diária com minha mãe. Dar aquele último beijinho antes de ir dormir, e o primeiro, cedinho da manhã, ao acordar!
Tomar chimarrão no solzinho da manhã, sentadas no banco de praça (sonho antigo) que ela tem em seu jardim, conversar sobre amenidades, ouvir conselhos sobre coisas sérias, fazer doce e compota no fogão à lenha, ajudar a estender e recolher as roupas do varal, te-la por perto.
Minha mãe tem a doçura desejada, mas a imponência necessária para uma mãe criar e educar os filhos sozinha. Como já comentei uma vez por aqui, meu pai foi embora de casa eu tinha apenas cinco meses, e meu irmão ano e meio. Nunca apareceu para ver se precisávamos de algo, seja material ou emocional. Nos furtou de muito, principalmente do amor e da presença de um pai.
Mas minha mãe, esta sim, foi mais do que espera-se de uma mãe; anulou seu lado mulher para exercer 24 horas por dia sua condição de MÃE. Desdobrava-se para após trabalhar o dia todo, arrumar tempo para arrumar a casa e brincar conosco: empinava pipa, brincava de carrinhos, levava-nos às márgens do Rio Uruguai para brincarmos e nos banharmos nos finais de tarde, inventava guloseimas e sanduiches para fazermos (inesquecíveis) piqueniques, inventava algum trabalho manual com latas, caixas ou até galhos secos, de onda saíam lições de criatividade, aproveitamento (reciclagem), coordenação motora e também nossos brinquedos e até nossa árvore de Natal. Adorava colorir as cascas de ovos que decorariam nossa árvore (feita com os galhos secos), e ajudá-la a enfeitar a casa.
E mesmo minha mãe tendo uma criação em lar evangélico, e ter vivido toda a sua vida sob os preceitos, doutrinas e conforme a Palavra, nosso relacionamento sempre foi de amor, proximidade e união. Sempre pude contar com seu amor incondicional, sempre a tive por perto. Mesmo nas questões que norteiam a transexualidade, recebi seu apoio, amor e dedicação materno.
A algum tempo atrás, mamãe era mais dura, mais rígida com ela mesma e com as coisas da vida. Hoje noto que mesmo firme em sua fé, ela ainda consegue olhar o outro e a vida de forma geral com os olhos de irmão, não de juiz, pois este é Deus. Conversamos, por vezes sobre coisas que jamais esperava que algum dia conversaria com minha mãe; como por exemplo, sexo, espiritismo, a militância (e direitos) LGBT, silicone, entre outros assuntos que evitava sempre abordar, por aos seus olhos serem polêmicos, proibidos ou pela discussão que gerariam, que geralmente agitavam os ânimos...
Mas dessa vez, foi bom passar esse tempo com minha mamãezinha e poder ama-la e cuida-la por algum tempo! Matei a saudade da casa da mamãe. Do colo e do ombro também!
Foram dias memoráveis, sem internet, sem celular, mas com os dois pés no chão, em contato com a natureza, ar puro, os bichos que tanto amo, fogão a lenha, mamãe, etc. As coisas que realmente importam!

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