Depois de dez anos de um casamento de muito companheirismo e lealdade, parece que por fim desce a cortina e se encerra este ato da peça de minha vida!
Agora penso se terei o desprendimento de correr para o camarim, trocar figurino, maquiagem e enfrentar um novo ato, repleto de incertezas e improvisos...
Hoje, pela primeira vez depois de tantos anos, sai sozinha para um evento familiar. Me senti por metade o tempo todo, e quando relaxava, mais alguém perguntava por ele; mais uma vez doia a falta do restante.
Dai lembrei que uma vez, ha uns cinco anos atras, tentamos também separar, e senti a mesma dor. Que era dificil ser um só, depois de ser dois. Dormir e acordar sozinha. Comer (quando dá vontade) em silêncio, sem os comentários e resumo da manhã ou do dia, sair na rua e não ter alguém para pegar na mão, dormir de conchinha com apenas um lado da concha.
Sei que com o tempo, as coisas se ajeitam, e tudo começa a ser visto por outras óticas, outros ângulos. Sei que se não doesse, é porque não foi verdadeiro, ou porque acabou mal!
Tive, durante dez anos, o melhor homem do mundo como marido e fiel companheiro para todas minhas loucuras (e furadas também). Uma pessoa responsável, centrada, honesta e fiel. Tentei sempre ser e agir da mesma forma, para assim corresponder e ser merecedora de tanto amor e consideração.
Passamos por bons e maus bocados... Falta de dinheiro, minhas conquistas pessoais (todas), nosso carrinnho, frio enquanto eu estava na esquina e ele esperava-me no aguardo de "só mais um último cliente" para ir para casa.
O bom (as vezes) humor ficava por minha conta. E adorava como ele sempre ria de todas as minhas besteiras, era minha melhor platéia, meu melhor público!
Muito raro ficava bravo de verdade com algo que eu fazia, e se ficasse eu sabia sempre como contornar. Aliás, a causa de nossas brigas eram quase cem por cento de responsabilidade minha. Mas sabia a hora e o momento de retroceder, conhecia a linha do seu limite. E quando sabia estar realmente estrapolando, dava um passo atrás, baixava o tom, fazia um chamego (as vezes) e respirávamos juntos. Tudo ficava bem. Mas motivos variados, os quais já havia sinalisado por aqui, como meu desentendimento e implicância com o filho dele, a falta de desejo (das duas partes) e interesse de mudar esse quadro foram agravando a situação que agora resta insustentável.
Outra coisa é o lado sexual, como relatei no post sobre hormônios, como é complicado estar "a mil" e o (ou a) parceiro não acompanhar. O lado sexual não é o mais importante em um casamento, pelo menos pela minha ótica. Mas é sim importante pela questão da intimidade do casal, e até da cumplicidade.
Quando tomo hormônios, fico com a libido no céu, e sinto-me rejeitada pelo desinteresse do parceiro.
Mas acho normal depois de dez anos essa perda do desejo louco e urgente pelo corpo do outro. Afinal, não tem mais novidades para explorar, e até as posições já são "coreografadas" e seguem sempre à risca.
Mas o mais importante sim, é o amor (não somente o machoXfemea, sexo) mas o amor que cuida, que zela, o companheirismo, a cumplicidade e o respeito. Tudo isso creio ainda existir entre nós, mas em uma análise geral da questão e da relação, não seria o suficiente para fazer valer a pena para as duas partes, e só é bom quando é igual para os dois.
Sei que alguém igual será difícil aparecer em minha vida. Afinal, todos diziam "Cris, tu teve sorte"! Mas tenho sonhos, e sou guerreira. Não aceito menos do que eu mereço, e quero o Conto de Fábulas completo!
Quero amar, sentir o calor pelo corpo, o gelado na barriga, o tezão da novidade, casar na Igreja, adotar uma menina, ser amada!
Preciso renascer, preciso sentir-me viva, preciso tentar. Arrependimento? Já tive tantos; Seria mais um na estante. A vida é feita de erros e acertos, mas só errou quem fez algo, e não quero ficar estacionada, pelo medo de desacertos, lágrimas e fracassos.
Perder um homem nota dez não é prá qualquer uma não! Tem que ter atitude para encarar que tudo estaria bem, que se tem tudo para estar bem, mas que algo tanto te encomoda, e que é preciso uma ação. E esse sufocamento age como uma mordaça em minh'alma.
Porque tem que ser assim? Estou errada? Serei eu a maior (talvez única) prejudicada? Ele viverá sem mim? Como irei me manter? Morrerei sozinha? O que os amigos irão pensar? A familia dele dará uma festa? Minha familia me culpará eternamente? Serei feliz, se não tentar, e todo dia olhar com desprezo meu rosto com a máscara do fracasso e da derrota de quem vê a vida passar, e apenas suspira?
Pensa que muito não refleti sobre todas essas questões nesse ultimo mês, até chama-lo para conversar?
Pensa que estou feliz, me achando a melhor das criaturas, por ter coragem de mudar tudo, porque está "normal, tranquilo e monótono"? SIM, refleti muito, e ainda morro de medo do amanhã! E NÃO, não estou feliz por isso; apenas tenho orgulho de ser honesta comigo mesma e com quem tanto amo. Pois enquanto a maioria das pessoas que conheço resolveriam todas essas questões arrumando um amante para "apimentar" a relação, e empurrar o fim dessa relação mais para frente, prefiro honrar nosso compromisso de respeito, de que quando um dos dois não estivesse feliz ou satisfeito, conversaria com o outro. Já está provado que um relacionamento extra-conjugal 'desestressa' o convivio, e que a outra ou o outro são responsáveis por casamentos mais duradouros e "felizes", agindo como uma válvula de escape... Só que para mim não funciona dessa forma. Penso que o amor, aquele verdadeiro do qual falava antes, não permite coisas desse tipo. Não teria espaço em meu casamento para atitudes ou pensamentos assim. Pelo menos não de minha parte, e pelo que conheço o oposto, penso que também.
Lembro de quando sai de casa para viver e dividir a vida com ele, minha mãe e eu chorando, o carro lotado com minhas últimas coisas que restavam em casa, e olhava para trás com um misto de felicidade, tristeza, medo e esperança! Pois bem, penso que este turbilhão de sentidos está de volta. Agora mais adulta, vivida, independente por vezes, mas a mesma Cristyane. Não me perdí do que acredito.
Não vendi meus valores com meu corpo durante o tempo em que tive de me prostituir para ter uma situação mais confortável. Aliás, sempre disse que não vendia o corpo, vendia a fantasi da noite do cliente. Pois quem vende o corpo vira escrava sexual (só para esclarecer).
Agora, depois de ter minha casa, meu canto, minha vida independente, fazer o caminho de volta para a casa da mamãe... Mais uma coisa que me atemoriza.
Como sempre divido todas minhas coisas particulares por aqui, achei digno esclarecer com tanta riquesa de detalhes os acontecimentos. É tão bom e importante para mim, neste momento (mesmo que eu esteja só) saber que alguém lerá, que alguém se impota, que alguém ainda torçe pelo amor e pelo outro.
Não tenho vergonha de demonstrar meus sentimentos, sejam eles bons ou ruins. Quando amo digo AMO; quando odeio digo ODEIO! E dividir neste espaço entitulado Diário, é tão confortante por sí só...
Não sou melhor, não sou pior. Nem certa ou errada. Sou uma busca por meu EU.
Quando me encontrar. certamente este será o primeiro espaço que compartilharei a novidade.
Beijo grande e obrigadíssimo se voce teve paciência (e curiosidade) para ler tudo. Essa é a História de Cristyane Oliveira, ato cinco!
Cris não tenho palavras agora, só que pode contar no que precisar.
ResponderExcluirImagino como deve estar difícil, entendo cada palavra que você colocou, o quanto é difícil seguir aquilo que acreditamos, o quanto é difícil remar contra a maré, ainda mais quando o que vislumbramos está no lado contrário da correnteza.
Um beijo, força, faça o conto de fábulas ser completo, corra atrás de seus sonhos porque você é forte e merecedora da felicidade.
Obrigada, querido Pimenta! Saber que um amigo é tão presente mesmo tão longe, é um alento para a alma! Beijinhos e fica com Deus. Cris.
ResponderExcluirOii, Cris!
ResponderExcluirLi agora o post do teu blog, e fiquei surpresa, triste e feliz ao mesmo tempo.
Surpresa e triste porque realmente lamentei o fim do teu casamento, pois pra mim vocês eram um exemplo de casal, de amor, de carinho. Admirava muito os dois, que viviam com tanta cumplicidade e respeito.
Mas ao mesmo tempo fiquei feliz ao ler o que tu escreveste, pois tu escreves tão bem, e pensamentos tão maduros, que foi bom para mim ler essas palavras. Também terminei meu namoro (que foi de 4 anos) e me senti contemplada pelas tuas idéias.
É realmente muito maduro e verdadeiro, terminar o casamento assim, com alguém que tu ama mas reconhecer que não dá mais certo, que o tempo passou, mas sem brigas nem desgastes maiores.
Bom, queria te dizer isso, e dizer que tu é uma pessoa forte, determinada e inteligente, e que essa nova fase pode ser difícil em alguns momentos (solitários!) mas também um grande aprendizado.
Estou aqui se precisares de algo, fica bem!
Um beijo grande.
Nathália
Nathália, amiga:
ResponderExcluirLendo o teu comentário, relembrei de nossos momentos juntos, na vez em que nos acompanhaste por 24 horas. Lembrei o teu carinho e até mesmo tua admiração. Esse amor é realmente uma força que nos sustentou por dez anos, e agora, acaba o casamento, não o amor!
Mas está sendo bom para mim fazer essa releitura dos ultimos anos. Rever os conceitos e necessidades, colocar a realidade e os sonhos na balança... Agradeço todo o carinho, e se precisar, aproveitarei sim, para usar teu ombro amigo! hehehe Beijos e fica com deus, amiga! Cris.