Nós, travestis e transexuais, como temos uma forte veia transgressora, como "fugimos" de toda a expectativa que nossos pais, primeiramente, criaram para nosso futuro, e não nos enquadramos no gênero masculino, e muitas vezes nem no estereótipo comum da mulher, tendo em vista nossas particularidades e especificidades, carregamos todos os tipos de defeitos e pecados que pode-se imputar à alguem. Dizem que somos, vulgares, escandalosas, bafonas, promiscuas, drogadas, ladras, doentes, perigosas e anti sociais.
Em algumas situações, ir ao super mercado, alugar uma casa, buscar emprego, namorar, existir, coisas que são comuns, normais e corriqueiras para a maioria da população, tornan-se grandes e dolorosos transtornos, causados pela ignorância, preconceito e a transfobia.
Passei por uma (mais de uma, mas essa foi a mais recente) dessas situações à pouco tempo, e vindo de uma pessoa que até nem esperava. Quer dizer, não esperava naquelas, pois sempre soube se tratar de uma pessoa super preconceituosa, com LGBT's e negros, pelo menos.
Mas comigo, por conhecer-me à tanto tempo, a seis anos pelo menos, não esperava. E depois, ela sempre dizia: -"Tu, tudo bem, para mim tú é uma mulher, mas o resto é sem-vergonha, é safadeza"! E eu evitava argumentar porque geralmente acabávamos entrando num debate mais acalorado e sinceramente? Não tenho paciência para gente burra e preconceituosa, dona da verdade. Que já chega com sua visão distorcida e faz questão de não tentar ver as coisas por outro ângulo, sem o preconceito. Mas tudo mais ou menos bem... Afinal, para ela ninguém prestava, era todo mundo vagabunda, ou marinal! Mas então chegou a minha vez. Pisou no meu calo.
De uma maneira covarde, silenciosa (para não dar processo) e mentirosa, negou-se à alugar uma casa para a gente (meu marido e eu, que aliás já alugávamos a seisanos a loja onde temos refrigeração, e onde moramos atualmente, à dois mêses). Alegando que alugaria para um parente de seu marido. Isso no dia em que a casa desocupou, que conseguiu "tirar" a inquilina anterior, a qual chamava de vagabunda. E seria o dia de nossa mudança, ou seja, em cima da hora... sendo que esperávamos a dita casa desde outubro do ano passado, seis meses, então, e com a maioria de nossas coisas encaixotadas, pois sempre dizia "ESTE MES ELA SAI". Lógico que acabei descobrindo toda a mentirada, e a mesquinharia desta pessoa! Não quiz alugar por ser um casal DIFERENTE, ABOMINÁVEL, uma ABERRAÇÃO!
Mas agora é que vem a conclusão:
EU sou uma TRANSEXUAL, meu marido é discriminado por consequencia, mas o estranho é que aqui em casa não tem os barracos que vemos nas casas vizinhas... Quebra-pau, brigaçada, bebedeira, escândalos, pais e filhos se pegando, gritaria, etc...
Este relato pessoal, usei apenas para ilustrar uma das muitas situações de discriminação vividas por milhares de trans diariamente...
Então pergunto novamente:
-Tá (mesmo) pensando que travesti (e transexual) é bagunça"?
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