Existe uma articulação representativa, legítima e atuante das transexuais?

Sou militante, ou melhor, ativista LGBT a cinco anos e infelizmente posso dizer que não!
Infelizmente, como já disse em outro texto, a invisibilidade dessas pessoas que não querem "exposição", torna dificil a existência de um MOVIMENTO de transexuais de fato.Usarei sempre o RS como exemplo, por estar mais a par da realidade de conquistas e demandas ainda existentes. Aqui, esse movimento e essa representação certamente não existem, a representação não é atuante (inclusive a minha) principalmente pela falta de homens e mulheres transexuais que dêm voz a essa luta, que é nossa.
Penso então que já está mais do que na hora de nos apoderarmos e empoderarmos de nossas questões, e mostrar nossos rostos, nossa voz, e direcionar nossas demandas para as instâncias responsáveis nas três esferas do poder.
Mas e cadê as vozes? Cadê os rostos? Onde está essa população que tem ainda tantas reinvindicações? Pode ela ser representada sempre por uma pessoa só?
Porque as vezes parece que sou apenas EU falando por uma população que não existe!
-"As transexuais precisam disso e daquilo; as demandas das transexuais são muitas"...
Sim, mas se as demandas são muitas, como serão ouvidas e transformadas em Politicas Publicas se o publico alvo (maior interessado) esconde-se na invisibilidade?
Ainda algumas pessoas ousam a dizer: - A Cristyane quer apenas aparecer, pois ela já é operada, trocou seus documentos, não precisa mais de nada!
Como se esta luta não fosse mais minha, se como algumas pensam; operou, virou mulher e tem de mudar de cidade até mesmo para viver uma nova vida, saindo até do Movimentos Trans.
Tá, mas será mesmo assim? Estão estas pessoas então no movimento para conseguir conquistas pensando apenas em si? Creio que não!!!
Até porque eu, quando entrei no Movimento LGBT, já havia feito a cirurgia de readequação sexual a tres anos! Então, teoricamente, não vislumbraria nenhum ganho pessoal...
Mas é salutar que o Movimento (para existir de fato) seja feito sempre por PESSOAS, e que esteja sempre se renovando. Que tenha representação de alguém que já seja operada, que quem está na fila de espera pela cirurgia, e principalmente de um Homen Transexual.
Pois são eles os menos assistidos e contemplados pela tabela do SUS. Pois ficam por dois anos no aguardo de uma cirurgia, ouvindo o tempo todo que não se sabe se será realizada, e depois dos dois anos de acompanhamento ( tempo minimo exigido pelo SUS para a REALIZAÇÃO DA CIRURGIA DE READEQUAÇÃO SEXUAL) conseguem apenas o direito à Ginecomastia (retirada das mamas em homens), o que para mim soa como crueldade.
Pois com certeza não haveria a necessidade dos dois anos para isso, até porque para as mulheres trans, faziam a colocação das próteses mamárias pelo SUS (AGORA POR ULTIMO TAMBÉM FOI NEGADO E NINGUÉM FEZ NADA A RESPEITO), a pessoa apenas pagava a prótese (comprava fora do HCPA), pois já estava incluido na equipe multidisciplinar. Então, vamos partir do mesmo princípio; se faz parte da construção de uma mulher (e é importante para uma transexual) e possivel antes da cirurgia e de completar dois anos a colocação de próteses mamárias, também faz parte da construção do homen, do gênero masculino, não ter seios!
É obvio! Dai a necessidade de essas pessoas terem uma representação legitima, para levar esta e todas as outras demandas da população de homens transexuais (que existe sim) até as instâncias correspondentes.
Pois sempre ouço que o serviço de Transgenitalização do Rio Grande do Sul é um serviço de exelência, e em três horas de conversa nos corredores do HCPA, com homens e mulheres trans, ví que a coisa não é bem assim; apenas não existe ninguém que exponha a realidade...