A Transexual Profissional do Sexo II: Prostituição Vs. Futuro

Gente, sei que este é um tema super polêmico, que a maioria das transexuais evita comentar, e é justamente por isso que somente agora, pela 2ª vez, abordo o assunto.
São reflexões minhas, de conversas e vivências. Sinto-me a vontade para abordar o assunto, pois é parte da realidade do dia a dia de (algumas) pessoas reais, não da imagem idealizada da transexual.

Estava, noite dessas, conversando com uma menina que deve se operar em dois ou tres meses aqui no Hospital de Clinicas de Porto Alegre. Ela estava na esquina, "batalhando" em um dos principais pontos de prostituição da Av. Farrapos.
Uma moça muito bonita realmente, alta, magra e super simpática. Falava-me de suas expectativas, seus medos e curiosidades do pós-operatório. Na verdade, encheu-me de perguntas e notei sua ansiedade e
aflição comuns na reta final, quando aproxima-se enfim o momento de realizar o maior sonho da vida de uma pessoa transexual, a cirurgia de transgenitalização.
Mas além de conversarmos muito acerca da cirurgia em sí, chegamos ao ponto crucial: O que fazer após operada?
Pois geralmente, trabalhamos junto das travestis. Dividimos, pode-se assim dizer, os mesmos clientes. E os clientes que procuram pelas travestis geralmente (99%) querem ser passivos na relação, serem penetrados pela figura feminina e viril, ou pelo menos fazer-lhe um sexo oral ou estimular-lhe acariciando o pênis, etc...
Eu entrei nos detalhes das preferências dos clientes das travestis, foi justamente para ilustrar que a transexual, após a cirurgia não mais estaria no foco deste cliente, portanto, "não poderia" mais trabalhar junto das travestis. Embora a relação com as travestis seja geralmente de cordialidade e respeito.
E junto das mulheres? Seria uma transexual aceita entre as prostitutas? Essa relação seria amigável e a convivência pacifica? E o cliente da prostituta, sairia com a transexual sabendo de sua condição?
Tudo isso conversamos naquela noite, muito rapidamente, afinal ela estava no seu local e horário de trabalho. E a duvida que ficou:  -"O que fazer, então após a cirurgia"?
Será que devemos planejar e programar isso com bastante antecedencia? Será que existe um campo para essas transexuais sairem das ruas? Pois em minha ultima vizita ao HCPA, como coloquei no outro post sobre o assunto, conheci várias meninas que se prostituem antes de operar...
A inquietação continua... O QUE FAZER? Pois durante o pouco tempo que eu batalhei, tive experiencias que mostraram-me que o lugar de uma trans readequada não é na esquina! Pois se o cliente saisse comigo na 1ª vez, deixava bem claro sua decepção e se acaso voltasse, ao lembrar de mim, era sempre a mesma coisa: "Tú é aquela operada, não é? Desculpa, hoje eu estou procurando algo diferente".
Via todo mundo sair e voltar e eu parada, até que parasse um que não fizesse a maldita pergunta: "Tú é ativa e passiva"? Aprendi a odiar este termo!!!
E uma vez, quando sai com um rapaz, que não perguntou-me nada; durante uma conversa, disse a ele que estava congelada por conta do silicone... Ele perguntou se eu tinha silicone na bunda, e quando eu disse que sim ele começou a gritar que eu o havia enganado, que ele pensou que eu fosse mulher de verdade, ameaçou me bater, tomar-me o dinheiro e deixar-me longe de onde nos encontramos. Tive de chamar a gerencia do estabelecimento para que ele se acalmasse.
Então pensei; é mais tranquilo "enganar" um cara que sai com travestis, pois ele vai ficar chateado (ou furioso) por voce não ter o pinto que ele tanto queria para aquela noite, do que um dito "heterossexual" que fica violento pelo fato de estar com um "homem" ao invés de uma mulher!
Felizmente sai da prostituição, não envergonho-me de ter passado por isso, mas orgulho seria o ultimo sentimento que eu relacionaria a esta faze de minha vida. Conheco o lado humano da prostituição, o lado das meninas, mulheres e até senhoras que fazem disto um oficio realmente, que em suas histórias tem até familias que são sustentadas pela venda de fantasias, de ilusões, de prazer.
O próprio movimento LGBT e os demais movimentos sociais, conheci através da rua. Do mesmo lugar
onde colhi, ásperas emoções, colhi também felizmente amizades, aprendizados e valores que levarei para a vida toda. Mas deveriam existir Politicas Públicas de Inclusão para as transexuais (e para as travestis) que não desejam mais utilizarem-se da prostituição como meio de vida e sobrevivência.
Pois penso com tristeza, o que será de nós?

Só para frizar, refiro-me à uma parte das transexuais ( a que é escondida e ou ignorada), pois felizmente temos a maioria das trans em trabalhos formais,  algumas sendo professoras, advogadas, juizas, empresárias, cabelereiras, secretárias, enfermeiras, etc...
PS. Todos os exemplos quie dei, são de profissões que conheço transexuais trabalhando!

Por Cristyane Oliveira
Foto: Luana Brasil

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